da janela interior vejo ao longe:
imagens que sobrevivem na memória,
lembranças de um quase sem-retorno,
enquanto me agarro nas luzes das ruas
e no cheiro das coisas transfiguradas
[perfumes, comidas & roupas novas];
dezembro,
o que fiz ? o que farei?
vejo os que ficaram e os que virão
a se alojar no meu peito quebrado,
então, serei mais que eu mesma:
enxergarei com muitos outros olhos,
lados extensos de tantas margens...
dezembro,
e eu me desmancho em mim,
troco de pele, faço mil planos,
escrevinho em blocos sem fim,
e me refaço para o ano que vem,
como quem se arruma para longa viagem
[o que posso querer, além do que ainda não?]
dezembro,
que tudo seja tão simples e belo,
como um amor sereno e sincero
de se embalar até dormir;
e de vez em quando eu seja vidro
para não chorar a ausência
dos que não estão mais aqui...
(Priscila Pinto, 2003/2013)